PRESERVAÇÃO DA AMAZÔNIA

John Kerry diz que Amazônia é de todos e Direita brasileira teme intervenção internacional

John Kerry declarou que a "Amazônia é um tesouro extraordinário que pertence a todos".


Em uma reunião com a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), encarregado especial dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry, disse que a Amazônia é um tesouro extraordinário que pertence a todos. A declaração do político americano desperta um temor da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação à soberania do Brasil, pois o governo petista é alinhado com a agenda climática internacional e tem colaborado para uma articulação internacional para negar ao Brasil a possibilidade de desenvolver a Amazônia de forma sustentável.

Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

Conforme o enviado especial dos EUA, o governo brasileiro tem o compromisso na renovação e na preservação da floresta. “A Amazônia é um teste para toda a nossa humanidade. “, disse Kerry. O americano disse que seu encontro com Marina mostra a renovação do compromisso de preservação “desse tesouro extraordinário que pertence a todos”.

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Em entrevista coletiva nesta terça-feira (28), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que o governo Lula tem compromisso de zerar o desmatamento na região até 2030, entretanto a ministra disse a Kerry que a Amazônia pertence ao Brasil. “Entendemos o caráter que a Amazônia tem sobre o equilíbrio do planeta, mas temos a clareza da soberania sobre esse território”, afirmou. Kerry que estava ao seu lado e assentiu com a cabeça.

Em um ponto muito sensível à oposição brasileira, Kerry disse que se a Amazônia não for protegida, nós “não conseguiremos manter a temperatura do mundo desta maneira”. Alguns críticos dessa teoria argumentam que as emissões de carbono das grandes potências por meio de combustíveis fósseis são muito mais prejudiciais na deterioração da temperatura global do que o carbono liberado em queimadas ocorridas na floresta brasileira.

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O receio do movimento direitista do Brasil não é de uma ação militar estrangeira na região, mas de uma série de ofensivas nas áreas política, jurídica e financeira, movimentadas por parte de países como EUA e França para supostamente tentar frear o desenvolvimento amazônico. O argumento para isso seria a suposta preservação ambiental.

Outro ponto criticado pela Direita brasileira são as ações de doação de recursos americanos e europeus para organizações não-governamentais para atuarem no norte do país em áreas de conservação ambiental, por meio do Fundo Amazônia. O governo do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) vetou essas ações argumentando que doações deveriam ser geridas pelo governo e não por ONGs internacionais sem muito controle.

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Outra preocupação da oposição é sobre o governo federal, visando demarcar 13 terras indígenas na região da Amazônia Legal. Além disso, Kerry sinaliza que os EUA estão dispostos a doar recursos para a preservação ambiental, o que ligou o sinal de alerta na Direita sobre o alinhamento entre as agendas ambientais de Lula e do presidente norte-americano, Joe Biden.

Kerry deu a entender que o apoio financeiro ao Brasil viria em parte dessa verba, via compra de créditos de carbono e por meio de empréstimos de bancos de desenvolvimento.

Segundo o deputado federal Joaquim Passarinho (PL-PA) criticou a parceria entre o governo brasileiro e o governo americano. Passarinho diz que a doação pode estar associada aos interesses protecionistas do agronegócio e do setor extrativista norte-americano. Ele afirma não descartar a hipótese de que a narrativa ambientalista construa condições de travar o progresso econômico na região.

“O custo Brasil [de transporte de produtos] pelo Amazonas e pelo Pará é muito menor e acaba abrindo um canal de desenvolvimento e progresso naquela região. Em qualquer exportação para os Estados Unidos via porto de Barbacena [no Pará] ganhamos cinco a seis dias de navegação. E logicamente é muito mais fácil frear isso pela teoria ambientalista”, pondera.

A deputada federal Sílvia Waiãpi (PL-AP) reforça as preocupações ao lançar suspeitas sobre o resgate de recursos para o Fundo Amazônia.  “A reativação sem orientação [do fundo] não condiz com o que se espera em política pública. Estamos abrindo espaço para outros países adentrar e manifestar seus interesses na própria soberania do país”, comenta.

Única indígena de Direita no Congresso Nacional, Sílvia defende um melhor debate sobre o Fundo Amazônia junto à sociedade para não atender interesses internacionais. “Os que custearão o fundo irão querer determinar o futuro de um povo que já sofre pelo isolamento e pela segregação”, finalizou.

O Fundo Amazônia foi interrompido na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após Noruega e Alemanha, principais doadores, rejeitarem mudanças no modelo de gestão dos recursos. O então governo defendia a participação e gestão direta sobre os recursos. Sob o governo Lula, ele voltou a ser gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O senador Plínio Valério (PSDB-AM), outro integrante da oposição ao governo, defendeu ao longo da última legislatura a instauração de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para examinar como são liberados os recursos do Fundo Amazônia para as ONGs e como as verbas foram utilizadas até então, bem como o desmatamento e as queimadas na região.

Segundo o vice-presidente de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), diz que o Fundo Amazônia é uma forma de preservar o meio ambiente e lutar contra a mudança climática. Segundo ele, a desconfiança em relação às ONGs não é justificada, pois o fundo é gerido pelo BNDES e passa por processos de auditoria nacionais e internacionais.