O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se reuniu nessa segunda-feira (9), em Brasília, com os governadores dos 26 estados e do Distrito Federal, para reafirmar o compromisso com a defesa da democracia e repudiar os atos violentos dos manifestantes que ocorreram no domingo (8) nos prédios públicos dos três poderes da União.
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Também participaram do encontro os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), e do Senado Federal em exercício, Veneziano Vital do Rêgo (MDB), além da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber e de outros ministros da Suprema Corte.
Em seu discurso aos governadores, o presidente Lula agradeceu pela solidariedade prestada e criticou duramente os grupos envolvidos nos atos de vandalismo. “Vocês vieram prestar solidariedade ao país e à democracia. O que vimos ontem foi uma coisa que já estava prevista. Isso tinha sido anunciado há algum tempo. As pessoas não tinham pautas de reivindicação. Eles estavam reivindicando golpe, era a única coisa que se ouvia falar”, disse.
O presidente também voltou a criticar a ação das forças policiais, assim como os militares do exército, o chefe do Executivo acusou a Polícia Militar do Distrito Federal e a Polícia do Exército, (que atua diretamente na guarda presidencial), de terem sido negligentes ao não impedir a destruição das sedes dos Três Poderes no domingo (8). Lula também determinou ser preciso apurar e encontrar os financiadores dos atos democráticos.
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“A polícia de Brasília negligenciou. A inteligência de Brasília negligenciou. É fácil a gente ver os policiais conversando com os invasores. Não vamos ser autoritários com ninguém, mas não seremos mornos com ninguém. Nós vamos encontrar quem financiou [os atos golpistas]”, disse Lula.
O presidente criticou duramente os militares por omissão. “As pessoas estão livremente reivindicando golpe na frente dos quartéis. Nenhum general se moveu para dizer: não pode acontecer isso, é proibido pedir isso, não vamos fazer isso. Dava impressão de que tinha gente que gostava quando o povo estava clamando golpe. Lá [em São Paulo] tinha barraca, almoço, churrasco, banheiro químico, como aqui em Brasília”, reclamou o presidente.
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Segundo Lula, os atos estavam preparados para a realização de um golpe. O chefe do executivo federal, disse ser experiente em acampamentos e greves e acha que os atos só duraram tanto tempo, devido terem sido financiados por alguém com recursos financeiros.
“Vocês sabem, eu sou especialista em acampamento, em greve, especialista em um monte de coisa. Não é possível um movimento durar o tempo que eles duraram nas portas dos QGs sem financiamento. Se não tivessem garantido o pão, o almoço, o café, o jantar. Em nome da democracia, não seremos autoritários com ninguém, mas não seremos mornos com ninguém. Vamos investigar e chegar a quem financiou. E vamos descobrir”, disse.
Os líderes estaduais foram unânimes na defesa do “estado democrático de direito” no país. Segundo o governador do Pará e presidente do Consórcio Amazônia, Helder Barbalho (MDB), em uma fala representando os governadores da Região Norte, disse ser preciso respeitar a democracia em um país de diferentes credos e culturas. “É importante ressaltar que este fórum [de governadores] se reúne respeitando as diversas matizes políticas que compõem a pluralidade ideológica e partidária do nosso país, mas todos têm uma causa inegociável, que nos une: a democracia”, destacou o governador do Pará.
Representando a Região Sudeste, o governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que a democracia no Brasil será mais forte, mesmo com os atos praticados por militantes radicais no domingo. “Essa reunião de hoje significa que a democracia brasileira vai se tornar, depois dos episódios de ontem, ainda mais forte”, disse o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas.
Falando pela Região Nordeste, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), se irritou ao falar das cenas de destruição dos maiores símbolos da democracia republicana do país, ela pediu punição aos golpistas. “Foi muito doloroso ver as cenas de ontem, a violência atingindo o coração da República. Diante de um episódio tão grave, não poderia ser outra a atitude dos governadores do Brasil, de estarem aqui hoje. Esses atos de ontem não podem ficar impunes”, afirmou
Pela Região Sul, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), destacou algumas das ações conjuntas deflagradas pelos estados, como a disponibilização de efetivos policiais para manter a ordem no Distrito Federal, assim como, desmobilizar acampamentos implantados na frente dos Quartéis em vários dos estados da federação. “Além de estar disponibilizando efetivo policial, estamos atuando de forma sinérgica em sintonia para a manutenção da ordem nos nossos estados”, disse.
Respondendo pelo Distrito Federal, a governadora em exercício, Celina Leão (PP), disse que o governo da capital “coaduna com a democracia” e lembrou da prisão, até o momento, de mais de 1,5 mil pessoas por envolvimento nos atos de vandalismo. A governadora em exercício está substituindo o governador Ibaneis Rocha (MDB), afastado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Celina também aproveitou seu discurso para defender Ibaneis, dizendo que o governador afastado “é um democrata”, mas que, “por infelicidade, recebeu várias informações equivocadas durante a crise”.
O Distrito Federal está sob intervenção Federal na segurança pública, por um decreto assinado pelo presidente Lula, sendo que a determinação foi aprovada “simbolicamente” por unanimidade pela Câmara dos deputados. Ainda na segunda (9), a determinação deve seguir para o Senado, e assim como na Câmara, a ordem dever ser também aprovada de forma simbólica.
“Nós votaremos simbolicamente, por unanimidade, para demonstrar que a Casa do povo está unida em defesa de medidas duras para esse pequeno grupo radical, que hostilizou as instituições e tentou deixar a democracia de cócoras ontem”, assegurou o presidente da Câmara dos Deputados.
A presidente do STF, ministra Rosa Weber, enalteceu a presença dos governadores em um gesto de compromisso democrático com o Brasil. “Eu estou aqui, em nome do STF, agradecendo a iniciativa do fórum dos governadores de testemunharem a unidade nacional, de um Brasil que todos nós queremos, no sentido da defesa da nossa democracia e do Estado Democrático de Direito. O sentido dessa união em torno de um Brasil que queremos, um Brasil de paz, solidário e fraterno”, declarou.
Após o encontro, presidente, governadores e ministros do STF atravessaram a praça dos Três Poderes a pé, até a sede do STF, edifício que também foi atacado e parcialmente destruído pelos manifestantes.