Opinião
Dr. Diego Cavalcante

OPINIÃO

Muito citada e pouco lida

"Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Dep. Ulysses Guimarães


Dentre os últimos acontecimentos na capital brasileira, envolvendo a prática criminosa de grupos extremistas, com atos que não podem ser aceitos por nenhuma forma legítima de ideologia existente em uma sociedade civilizada, espantosamente se destaca o ataque sedento de alcançar, desrespeitar e exibir a Magna Carta da República que, por sorte, era somente uma réplica do texto original fragilmente resguardada nas dependências do órgão de cúpula do Judiciário.

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Encarando especificamente esse comportamento, tem-se por intuitiva a reflexão sobre as críticas direcionadas à Constituição, como se os problemas da Federação só surgissem com o advento da sua redação em 1988. Culturalmente, os brasileiros despejam na Constituição as suas angústias provocadas pelos representantes que refletem ou deveriam refletir a vontade dos representados. Basta passear por qualquer meio eletrônico para tal constatação.

O covarde exibicionismo, sob o falso argumento antidemocrático travestido de patriotismo, com alguém mascarado posicionado no colo da escultura da justiça na frente do Supremo Tribunal Federal, erguendo a réplica da Constituição, nos leva a duvidar do destino do Brasil como nação. Certamente a Constituição Federativa do Brasil de 1988 não é um texto perfeito. Porém, sem a menor sombra de dúvida, é a melhor que já tivemos ao decorrer de toda a história brasileira, gozando ainda de uma existência jovial, afinal, são apenas um pouco mais de três décadas de muitos testes e alterações em sua redação.

Nesse mesmo sentido, cirúrgico foi o discurso do Presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Dep. Ulysses Guimarães: “Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério”.

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Diametralmente, em sentido oposto do que ocorre na “terra do Tio Sam”, onde o documento maior do ordenamento jurídico daquele país é mantido sob um majestoso aparato de proteção proporcional à sua importância histórica e política, resguardado como um verdadeiro objeto de veneração em um santuário, mantida no Arquivo Nacional estadunidense (em Washington, D.C.), posta em um cubo de vidro blindado que é constantemente visitado pelos verdadeiros patriotas americanos que nutrem respeito e infinitas homenagens em face do documento, e dispõe ainda de inúmeros outros aparatos de proteção quando encerradas as visitas, momento em que o texto é recolhido em um cofre revestido por aço e concreto resistente até a ataque nuclear.

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Quando comparado, o respeito dedicado à ambas Constituições fica evidente os rumos traçados em nosso país e o destino a que estamos condenados. E assim, a Lei Maior, muito citada e pouco lida, já que os brados de inconstitucionalidade se encontram na moda, continua resistindo a duros ataques oriundos do seu próprio povo, principalmente pelos “juristas” de plantão formados no “twitter” com pós-graduação no “instagram.”

Por fim, resta reconhecer que foi profético o então Dep. Ulysses Guimarães, pois, embora tenham se passados mais de 34 anos, os traidores da pátria continuam sendo os mesmos traidores da Constituição.