Fraternidade 2023

Campanha da Fraternidade desse ano traz novamente o tema da fome para o debate

É a terceira vez que o tema é escolhido pela cúpula da Igreja Católica.


A Campanha da Fraternidade desse ano realizada pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) começou nesta quarta-feira (22), trazendo novamente o tema da fome como reflexão durante o período da Quaresma (40 dias de jejum espiritual antes da Páscoa).  Conforme a Instituição católica, a emergência sobre o assunto foi o que motivou a escolha do tema “Fraternidade e Fome”.

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É a terceira vez que o tema é escolhido pela cúpula da Igreja Católica. Segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), mais de 33 milhões de pessoas estão em situação de fome no Brasil.

O lema da Campanha deste ano foi retirado do Evangelho de Mateus “Dai-lhes vós mesmo de comer!”. A frase é dita por Jesus Cristo pouco antes de o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes para alimentar uma multidão.

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Porém, dados apresentados pelo Banco Mundial apresentados no dia 7 de novembro do ano passado, indicam que o número de pessoas vivendo abaixo da linha de extrema pobreza no País reduziu, saindo de 5,4% em 2019 para 1,9% em 2020.

Os números controversos do mapa da fome no Brasil indicam diversos índices utilizados como base para a identificação da quantidade de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza ou que passam pelo risco da fome.

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Conforme o Banco Mundial e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Brasil (IBGE) registraram queda na taxa de extrema pobreza em 2020. Tanto o Banco Mundial quanto o IBGE assinalaram essa diminuição devido ao efeito na renda da população através do auxílio emergencial pago na pandemia de covid-19.

As duas informações disponíveis sobre a vulnerabilidade financeira das famílias brasileiras são de 2020. Ainda não há dados oficiais disponíveis para 2021 e 2022. O Banco Mundial disse que a taxa de extrema pobreza chegou ao menor patamar da série histórica, iniciada em 1980. Já o IBGE divulgou que a taxa foi a menor desde 2015.

Os dados apresentados pelo IBGE e Banco Mundial conflitam com a pesquisa da Rede Penssan, que disse que 33 milhões de brasileiros “passam fome”.

Na realidade, a pesquisa indica que 33 milhões de brasileiros passam por insegurança alimentar considerada grave. O estudo não estabelece como critério a quantidade de refeições que a família faz diariamente. O levantamento também não utilizou como base de dados a renda da pessoa, mas, sim, um questionário com 8 perguntas sobre a alimentação no país.

Cada pergunta do questionário equivale a (1 ponto), e a cada resposta “sim” respondida pelo entrevistado e ultrapassando o limite de seis pontos, a família é incluída no grupo dos que estão em risco.

Embora com as diferentes metodologias, é possível afirmar que houve uma queda na taxa de extrema pobreza no 1º ano da pandemia. Segundo Daniel Duque, integrante da equipe de pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas), as pessoas que viviam abaixo da linha da pobreza extrema eram 7,46% da população em 2019. O percentual caiu para 6,13% em 2020. Porém, uma piora na taxa do Brasil em 2021.

Em números absolutos, a extrema pobreza atingiu 16,3 milhões de brasileiros em 2019, e caiu para 13,8 milhões em 2020. Daniel fez seus cálculos, com base nos dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios) do IBGE, que o percentual de pessoas em situação de extrema pobreza voltou a subir no 4º trimestre de 2020, e alcançou 10,4% da população no 1º trimestre de 2021. Em 2021, segundo o analista, subiu para 19,7 milhões de pessoas.

O período analisado coincide com a interrupção do pagamento do auxílio emergencial. Na época, o governo federal manteve somente o Bolsa Família em funcionamento. O auxílio voltou a ser pago em abril de 2021. O próprio Banco Mundial alertou em seu relatório que estimava um aumento da pobreza em 2021 com o fim dos benefícios.

Os dados de Daniel Duque mostram que, com a volta do pagamento do auxílio emergencial, a taxa voltou a cair. Atingiu 8,05% no fim de 2021, percentual ainda acima do pré-pandemia. Apesar dos números presentados pelo economista, há uma divergência com os números apresentados pelo IBGE, apesar de mostrarem trajetórias parecidas. O instituto mostrou que a taxa de pobreza caiu para 5,7% em 2020, porém é o último dado disponibilizado pela instituição.

A queda foi de 1,1 ponto percentual em relação a 2019. A extrema pobreza atingiu 14,2 milhões de pessoas em 2019. Recuou para 12,1 milhões de brasileiros no ano seguinte, início da pandemia de covid-19.

Banco Mundial e outros organismos internacionais, utilizam como base de pesquisa para a linha de extrema pobreza, as pessoas que ganham até US$ 2,15 por dia. O IBGE ainda não incorporou a nova metodologia internacional, pois considera a faixa de extrema pobreza as pessoas que recebem até US$ 1,90 por dia, correspondendo a mais de R$ 290 por mês. O IBGE utiliza a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad Contínua).